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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Podas de "meio-metro" na Vila



Praceta junto à EB 2,3 António Feijó (na rua Dr. Luís Gonzaga), carvalhos-americanos e outros com "arredondamento de copa"

Alameda de São João, Platanus x hispanica Mill. ex Münchh.
 com copa "assassinada"
Nos últimos tempos tenho visto em Ponte de Lima o que não se via - as chamadas "podas de meio-metro" ou "podas camarárias" em árvores de sombra!! Estas podas são contraditórias, pois parecem ter por objectivo reduzir essa sombra!? O mais recente mau exemplo foi junto às escolas, mas há um outro do ano passado junto da Via do Foral de D. Teresa, na praceta do lado oposto ao LS Bar (próximo da Central de Camionagem) (freixos e carvalhos foram retalhados) e ainda uns plátanos de copa "assassinada" na Alameda de São João. Mas há mais, um carvalho (cf. Quercus robur L.) junto ao antigo quartel dos Bombeiros e, mais antiga, a razia que houve no Hospital Conde de Bertiandos aquando do seu alargamento, onde apenas sobraram "mastros" ao alto, que depois tiveram a dignidade de cortar. 

Lodãos com poda extrema que apresentam fungos evidentes (Hospital Conde de Bertiandos)

Este tipo de poda (poda de rolagem segundo os especialistas) não tem fundamento em arboricultura urbana, pois a única coisa que se promove é o provável apodrecimento das árvores nos anos vindouros e uma sucessiva necessidade de poda no futuro [Depende da espécie e depende de como a poda é feita - um dos lodãos (Celtis australis L.), que "sobraram" no Hospital, apresenta grandes fungos na base das sua antigas pernadas, evidência de que a podridão já é avançada]. Com estas podas drásticas normalmente o que acontece é o surgimento de rebentões de crescimento rápido que necessitam de manutenção periódica, pois estes não tem a mesma estrutura das pernadas e braçadas que foram cortadas injustificadamente. Outro problema é que se os deixarem crescer estes não são tão resistentes às ventanias como os ramos originais.
  
Então quais são as aparentes vantagens-objetivos deste tipo de poda? 

  • A mais comum desculpa é que como a árvore cresceu mais do que o inicialmente se pensava (?!) há que «arredoar» a copa para esta não crescer tanto... e não incomodar a vizinhança com a sombra ou com as folhas!;
  • por ventura a 2.ª justificação mais ouvida é para o seu "alindamento" - assim as copas ficam todas iguais, redondinhas ou reduzidas ao mínimo...; 
  • outro caso, que posso pensar, é que fica mal uma árvore grande no meio de outras mais pequenas recentemente plantadas!!! 
  • Finalmente outra aparente vantagem é a lenha - será que quem faz a poda pretende levar lenha para casa... não sei bem a qualidade da lenha de plátano (mas não deve ser das piores), mas a de carvalho é da melhor que temos!!!


A minha reflexão sobre este tipo de podas em árvores assenta em dois aspectos: por um lado os particulares, que fazem estas autênticas barbaridades muitas vezes devido a mitos e a falta de (in)formação. Há quem pense que uma árvore não passe sem uma boa poda e revêem-se em exemplos que bem conhecem, como a oliveira ou a vinha, para justificar a sua poda. O problema é que nestes casos tratam-se de "espécies" cultígenas, variedades que estão adaptadas e domesticadas há centenas ou mesmo milhares de anos em que o objectivo da poda, assim como nas outras fruteiras, é abrir a copa para que se possa produzir mais flores com a redução do ensombramento e competição entre os gomos. Por outro lado, em alguns casos, se a produção for muita, mesmo sem a poda, o mais certo é os ramos se partirem todos com o peso, num dia de vento (e.g. pessegueiros). No entanto se pensarem bem, tirando a oliveira (que aguenta tudo e mais alguma coisa) quais são as fruteiras que duram muito tempo... o mais normal é ver-se que com o passar do tempo surgem grandes cavidades nas árvores (o que vale à oliveira é que é extremamente resistente), que mais tarde ou mais cedo acaba por matar o exemplar. Se falarmos na produção intensiva, então é sabido que para manter a produção há que "renovar a frota periodicamente".

Por outro lado, no caso das instituições públicas (os casos aqui reportados) se, por exemplo, se pretende reduzir o tamanho da árvore, porque cresceu mais do que se pensava, então significa que a plantação não foi devidamente planeada para o espaço em questão. Se nos particulares a falta de formação pode ser desculpável, nestes casos significa negligência de quem é responsável pelos Espaços Verdes onde estas barbaridades são efectuadas sem razões técnicas evidentes. Nestes casos a minha opinião é só uma, para dar estes maus exemplos, que infelizmente abundam pelo país, mais vale cortar pelo pé e plantar uma nova (ou, em casos específicos, reorientar o crescimento de um dos rebentos para dar uma nova árvore).


Infelizmente o problema do nosso arvoredo urbano não é só este... se olharmos com atenção vêem-se outras barbaridades nos nossos jardins e alamedas:

  • feridas no colo das árvores jovens provocados pelo fio de nylon das roçadouras - já ninguém é capaz de usar uma sachola para rapar as ervas junto a uma árvore!?;
  • destruição de parte do sistema radicular em obras nas vias públicas e muitas vezes na própria "requalificação" dos espaços verdes (infelizmente quando as árvores caiem ou secam já ninguém se lembra das obras... e.g. ulmeiros no Passeio 25 de Abril, e plátanos na Alameda dos Plátanos - que já fizeram correr "muita tinta" (arvoresdeportugal.net) e já foi apontada como exemplo a seguir sombra-verde.blogspot.pt, ainda que nós tenhamos algumas reservas sobre esta Alameda (mas isso fica para outro post).
Tendo em conta este cenário qual será a resposta dos responsáveis por estas "podas mutilantes" perante uma plateia de especialistas que virão de todo mundo no anunciado Congresso Mundial da World Urban Parks e o 9º Congresso Ibero-Americano de Parques e Jardins Públicos, agendado para a vila que promove a jardinagem nos dias 26 a 30 de Maio próximos!! 






Sobre podas vejam o trabalho e a opinião de um profissional (que já tive a oportunidade de conhecer em tempos) Paulo Moura - Arboricultura e Jardinagem e de grupos especializados no combate a estas "irresponsabilidades" Grupo Anti Arboricida