Ambiente: 29 de Janeiro de 2010
Valorização dos Ecossistemas das Bacias Hidrográficas do Minho e Lima
(c) foto: http://www.cm-pontedelima.pt/noticia.php?id=354
Já tem quase 2 meses esta notícia, mas muito me apraz promovê-la. Afinal de contas é a área na qual desenvolvo investigação. Veremos como o projecto será dirigido. Espero que no final os limianos olhem para os seus rios de uma forma diferente.
De facto, analisando os bosques ripícolas do Rio Lima, em particular, é precisamente no trecho que passa entre a Vila de Ponte de Lima e a Vila de Arcozelo um dos que se encontra em pior estado de conservação, dada a falta de sensibilidade dos gestores (e não só) para os valores biológicos que ali se encontram.
Por um lado a "limpeza" que se fazem nas barras arenosas vegetadas essencialmente por salgueirais de Salix salvifolia ssp. salvifolia. Por outro, o corte de amieiros (Alnus glutinosa) no amial na margem direita e o corte da vegetação herbácea do sub-bosque por razões meramente estéticas. No final, o estado lamentável do famoso areal de Ponte de Lima e o ajardinamento das margens um pouco por todo o trecho referido. Este ajardinamento é feito à base de espécies exóticas. Espécies estas que não fazem parte da nossa biodiversidade local e que devem ser usadas com atenção [na minha opinião não deviam ser usados em habitats (semi)naturais] dado que algumas delas se podem tornar invasoras.
Relativamente às espécies invasoras, infelizmente o Rio Lima está gravemente afectado por um naipe problemático. Muitas são as causas, mas a construção da Barragem de Lindoso e a consequente diminuição dos caudais de cheia em muito ajudam. Começando pelas acácias temos em completa invasão nas diferentes acumulações arenosas, nomeadamente para jusante da Vila, a Acacia dealbata (mimosa), a Acacia melanoxylon (austrália) e a Acacia longifolia (acácia-das-espigas) e menos a Robinia pseudoacacia (acácia-bastarda ou robínia). Depois temos a recente invasão da Cortadeira selloana (penachos ou erva-das-pampas) [com origem em plantações no açude] e a mais problemática erva-da-fortuna (Tradescantia fluminensis) no sub-bosque dos amiais. É necessário ter em atenção ainda à recente naturalização do bordo-negundo (Acer negundo) e à mais antiga do plátano (Platanus acerifolia) [vindos da famosa avenida dos plátanos].
Se nos alargarmos para as veigas do Rio Lima aí o problema chama-se também Eucaliptus globulus dada a sua plantação disseminada em algumas áreas. É uma espécie que não faz sentido algum ser plantada nos melhores solos agrícolas, como são os solos de aluvião, ainda para mais sem aparentemente proveito para fins industriais!
Espero sinceramente que este projecto seja bem pensado e ainda melhor gerido na prática (pois é disso que o nosso país necessita), já que as nossas florestas baixas bem o precisam. Assim como as restantes infelizmente. Um dos cartazes de Ponte de Lima é a sua beleza paisagística, mas quem tem olhos sensibilizados para o problema observa que na paisagem vegetal limiana, em largas áreas, o que dominam são as espécies exóticas, quer pela plantação desregrada de uma monocultura de eucaliptos, quer pela invasão de diferentes acácias...
Os limianos têm de aprender mais sobre a sua floresta autóctone e suas etapas naturais de degradação/regeneração e os seus valores naturais, pois a nossa maior riqueza em espécies vegetais estão naquilo a que nós chamamos "mato". Dá que pensar, não dá!
Espero contribuir para esse enriquecimento dos limianos... Assim, fica desde já anunciado, logo que possível, mais informação sobre a vegetação ribeirinha nativa do Rio Lima, assim como fotos das principais espécies. Para além das floridas, mas perigosas, invasoras atrás enunciadas.
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